domingo, 27 de janeiro de 2008

Orbitando...Pra Variar.

É curioso o fato de que pessoas com quem dividimos uma vida, de repente passam a fomentar animosidades sem pés nem cabeça, fazendo de nós parias aos olhos da sociedade. A força que move o ódio dessas pessoas, a quem apelidei de “zebras”, poderia ser canalizada para outros fins que não a mais despudorada demonstração de despeito, até então jamais vista por este ávido observador do cotidiano. Essas pessoas fantasiadas de bob esponja são na verdade, lulas-moluscos, enfeitados de bijoux tristes que mascaram a sua solidão e sua insatisfação pessoal tripudiando da vida alheia, ao menor sinal de que as suas não andam segundo as suas determinações. O pior é que elas nem tocam clarinete...

É por isso que falo de quem gosto, ou no mínimo, de quem tolero. E o assunto de hoje passa longe de figurar em uma matéria do Discovery channel, meus amigos. Enquanto me dava ao luxo de ter o direito de resposta a uma questão pessoal, buscava nos arquivos da minha calva cabeça alguma referência que alimentasse esse folguedo que o ato de escrever aos domingos se tornou pra mim; qual não foi a minha surpresa quando vi minhas mãos involuntariamente a digitar de modo sôfrego, como se quisessem fazer algum tipo de justiça a esse ilustre personagem da minha vida: o meu pai.

Esse cara de quem falarei nas linhas subseqüentes é um sujeito que, nem que eu viva duzentos anos, irei encontrar alguém similar em caráter, hombridade e amor à família. É bom lembrar do tempo em que ele, ainda com a vasta cabeleira encaracolada, me carregava em seus ombros rumo ao futebol semanal. Eu ainda nem fazia idéia do sujeito que viria a ser um dia, mas os valores do meu velho pai já se haviam entranhado na minha personalidade pueril; valores que tento carregar comigo e que me ensinam a viver com um mínimo de sossego.

O maior exemplo que herdei dele foi que “a palavra de um homem é seu maior patrimônio; uma vez que ela perde o peso, pode-se decretar a sua falência moral”. E palavra eu sempre tive. Se eu a usei para o bem ou para o mal, só a minha consciência sabe e só a ela devo satisfações. De gosto musical refinado, com um sorriso de avô gratuito e para orgulho de toda família, trabalhador, muito trabalhador. Quantos natais e anos-novos eu o vi sair de madrugada para a lida e só voltava de manhãzinha com as orelhas cheias de minério... quantas privações passamos juntos em prol de uma vida mais confortável... um homem de idéias originais e de muita visão, mas de coração mole. Adorável em qualquer circunstância, o xodó de minhas ex-namoradas...
O pai sempre foi muito transparente, mas e quanto ao homem? Esse eu ainda estou descobrindo quem é. Para falar a verdade, só consegui ter uma vaga noção de quem é este ser humano no dia em que deixei de ser filho. Essa é mais uma das grandes verdades da vida que combati e que por fim dobrei os joelhos, derrotado e feliz por não ter tido a razão que ansiava na juventude.

Gostaria de lhe dizer, meu velho melhor amigo, que lamento não ter sido mais próximo da sua intimidade o quanto você merecia. Peço perdão por não ter respeitado seus momentos de ser humano frágil e, ainda assim, maravilhoso que o senhor é. Queria que soubesse que o amor filial que sinto pelo senhor nunca morreu, nem mesmo quando cansado, o senhor se recusou a jogar dominó comigo. Nem mesmo quando contra tudo e contra todos, ficou ao meu lado em meu momento mais difícil. Agora, sinto que meu primeiro vôo solo em direção a minha história é possível e não poderia deixar o senhor de fora dessa conquista. Mesmo que não nos conheçamos mais. Mesmo que o senhor tenha se cansado de me amar. Mesmo que seja para tomar a parte que lhe cabe nessa vitória. Ao menos para que eu possa lhe dizer o quanto eu o amo.