terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A pena vale a pena.

Descobri por que as pessoas não gostam de ler, nem escrever. É simples: não é preguiça, é medo; não o medo das palavras, e sim da descoberta que advém delas. Ler e escrever significa não se acomodar diante do espelho, pôr pra fora tudo aquilo que nos excita ou nos incomoda, sobremaneira na hora em que colocamos as nossas cabeças no travesseiro.

Eu _ que sou ao mesmo tempo um cagão de marca maior e um Harold Foster quando o assunto é a pena na mão e os olhos no papiro _ teimo porque teimo em macerar o teclado e os miolos em uma busca sem trégua pela crônica sincera e por uma noite de sono tranquila. Entenda o termo sincero como aquele texto em que o ocioso leitor, só de folhear as primeiras letras é magneticamente atraído; aquele em que o olho “escorrega” por entre as páginas. Contudo, devo confidenciar-lhes (é, vocês mesmos, a meia-dúzia de pessoas que me lêem) que pelo que andei escrevendo nas rasuras anteriores, ainda preciso tomar muito Biotônico Fontoura. Tenho percebido uma incômoda insatisfação com o que tenho produzido e, pra rasgar o verbo de uma vez, quase não tenho dormido.


De vez em quando, a vontade de largar tudo e viver nos moldes tradicionais quase consegue me seduzir. Aí, penso na agonia inevitável e somatizo uma estranha comichão, que subitamente me toma de assalto, só de pensar na improvável hipótese. Não, mil vezes não! Isso nunca! Escrever para mim é quase como acordar e abrir os olhos, automático. Não saberia mais viver privado do direito de me reconhecer no espelho, ou pior, de me transformar em uma espécie de quasímodo iletrado. Ou ainda, em uma zebra de terno e gravata.

São as nossas escolhas que nos definem. Eu decidi mergulhar cada vez mais fundo em direção ao simples, desde o meu estilo de vida até o da minha escrita. Viver e escrever de forma simples é o objetivo. Conviver com pessoas simples e trocar experiências acerca da simplicidade. Falar sobre as coisas simples da vida. Comer pipoca com a namorada, encontrar lirismo no gesto e, por fim, colocar no papel tudo isso.

Essa foi a forma que encontrei de me sentir gente. Juro que até tentei seguir a maré da mesmice, mas a correnteza era muito forte e não deu pra mim, não tive fôlego pra segurar a barra. Definitivamente não era a minha praia. Preferi a segurança e o controle sobre o ato de construir, letra após letra, a minha visão de mundo. De poder me sentir livre para ser quem eu quero e falar sobre o que quero, na hora em que me der na veneta, como um ditador. Aqui, nessa folha em branco que não passa de um aglomerado de pixels, eu choro, dou gargalhada, sofro, amo e sou feliz. Aqui me realizo e me alimento. Aqui eu mando. Aqui eu vivo.